O grupo de Missionários que foram para a Ilha do Marajó/PA no
período de 24 /02 a 05/03 de 2017, foi recebido pela paróquia São José e Santa
Terezinha do Menino Jesus, do município de Breves, que organizou e programou a missão. Dentre os missionários, quatro são da
Diocese de Nova Friburgo/RJ, um de Jundiaí/SP, um de Rio Bonito/RJ e três de
Belo Horizonte/MG.
O grupo foi dividido em dois grupos para melhor atender as comunidades
mais carentes. Foi realizado um retiro de carnaval no setor Estrada – na
Comunidade São Pedro – e outro no setor São Vicente, nas comunidades Ribeirinhas.
No setor São Vicente, as comunidades pertencentes a ele vivem
em condições de vida bem precárias. Não possuem energia elétrica, água tratada
e encanada, esgoto, saneamento básico, todas as casas são de madeira e as
fossas são utilizadas ainda como banheiros. Como o único acesso a essas
comunidades é pelo rio, o meio de transporte que mais utilizam são os barcos,
que na maioria das vezes são as “rabetas” (locomoção dos rios) onde suportam
famílias numerosas.
Para chegarmos ao local onde aconteceu o retiro foram
necessárias muitas horas de viagem. Em Belém, embarcamos num barco de grande
porte onde fizemos 12 horas de viagem até a cidade de Breves. De lá, viajamos
mais 10 horas em outro barco menor até chegar a esse setor.
As pessoas de Ribeirinhas, apesar da grande dificuldade em
que vivem e mesmo esquecidas pelo governo local, possuem uma fé inabalável em
Deus. As comunidades que integram este setor possuem muitos jovens (e também
crianças) que são comprometidos e bem engajados. As crianças são muito
necessitadas de amor e atenção. Percebemos que a partir do momento que
abraçamos e damos carinho a elas, a todo momento ficam nos procurando e
querendo ficar perto de nós.
Percebemos também que as pessoas que moram nessas comunidades
Ribeirinhas, precisam muito de formação no sentido de saber aproveitar melhor
as riquezas naturais que possuem para cultivar mais para o consumo próprio e
até para terem outras fontes de renda que não seja a madeira, pois a maioria
das famílias vive da extração da madeira ou apenas dos auxílios de bolsas do
governo. As pessoas são na maioria, muito dóceis e aceitam com gratidão os
conselhos e formações que damos.
O território que a Paróquia de São José abrange possui mais
de 100 comunidades Ribeirinhas para serem atendidas por apenas dois sacerdotes
que consomem suas vidas por aquele povo. A vida nas comunidades mais carentes
da Ilha do Marajó é marcada por uma realidade bem triste, onde crianças são
abusadas sexualmente até mesmo por parentes, em troca de um quilo de alimento
ou um prato de comida. Vimos um senhor de mais de 80 anos que foi realizar um
serviço de roçar um pasto em troca de um saquinho de pregos e acabou sendo
picado no braço por uma cobra e este já estava acamado há mais de um mês.
Quando o padre foi visitá-lo e ministrar a unção dos enfermos, o senhor no
mesmo dia à tarde se levantou e foi participar do retiro conosco. Vemos a
manifestação de Deus, por causa da fé do seu povo.
O retiro começou no domingo pela manhã (dia 26/02) e se
estendeu até a quarta-feira de cinzas. O padre Evander (vigário da Paróquia São
José) nos acompanhou nesta missão juntamente com a Irmã Maria Luiza, ambos
membros da Comunidade Providência Santíssima que vivem como missionários no
Marajó há alguns anos cedidos a esta Prelazia, juntamente com o Padre Clayton
(pároco da mesma paróquia) e a Irmã Maria José.
Durante o retiro, nós ficamos responsáveis por conduzir todo
o encontro. Fizemos as animações, pregações, condução dos momentos de oração, e
servimos o povo no que foi necessário. Visitamos algumas casas também, alguns
enfermos, o padre ministrou os sacramentos da reconciliação e da unção dos
enfermos, e celebrou as missas diárias. Foram dias de muitas bênçãos e
aprendizados, onde temos a certeza que ganhamos muito mais do que damos.
Ao voltar para Breves, continuamos a missão na paróquia.
Visitamos o hospital regional da cidade onde o padre celebrou a missa com os
doentes, no hospital vemos uma demanda de pessoas que são por vezes ocasionadas
por lesões e quedas tendo bastante fraturas devido ao modo de vida onde
precisam trabalhar com cargas em locais difíceis e de acessos de risco, e essas
pessoas sobem em árvores para recolher as frutas e acabam tendo acidentes por
altas quedas, mas eles precisam fazer isso para a própria sobrevivência e
estarem também comercializando para vendas neste processo de trabalho que é
feito lá. No setor da pediatria do Hospital algo nos impressionou, pois muitas
crianças estavam internadas devido a picadas de cobras.
Visitamos algumas casas de pessoas enfermas onde rezamos com elas,
ajudamos na catequese, no Projeto Beata Elena Guerra, que é um projeto onde
atende crianças carentes da comunidade, e tivemos a graça de servir a Deus na
pessoa desses irmãos e podemos concluir que somos privilegiados por termos sido
escolhidos por Deus para a realização dessa missão.
No Setor da Estrada, na Comunidade de São José, onde foi
dividido o grupo, permanecemos neste local também durante cinco dias, e foi
aplicado o mesmo retiro de Ribeirinhas, com orações, conduções e muitos
momentos importantes de cura e libertações, principalmente entre os
adolescentes, onde observamos uma carência grande dos seus pais com eles, pois
muitas famílias tem em torno de 5 até 12 filhos, o que nos faz entender uma
grande luta para viverem e não terem condições por vezes te darem mais atenção
a esses adolescentes. Percebemos os mesmos problemas sociais citados acima, mas
também verificamos uma falha na formação humana, acompanhamento vocacional e na
educação. Por se tratar de um local distante, a estrada que percorremos está em
péssimas condições, e para melhor atender aquele povo é preciso chegarmos de
barco, motos ou carros de grande porte, e muitos não querem fazer o trabalho
lá, ou realmente não tem condições, porque quando chove muito, fica inacessível
aquele a estrada para passar até essas pessoas. O local é bastante amplo, e
temos pessoas com muita sede do amor e fome da evangelização.
Desejamos neste sentido trabalharmos de forma mais efetiva e
afetiva nesses lugares. Um questionamento que passou em nossa cabeça onde
tivemos a experiência de por vezes abrirmos a porta da Casa Paroquial que nos
acolheu e de atender crianças pela manhã nos pedindo pães para alimentarem suas
famílias, nos fizeram retratar a Ilha de Marajó como um local de abandono por
parte do Governo e seus representantes.
Pela graça de Deus muitos missionários (as) estão abandonando
suas famílias, casas e trabalhos e indo servir por vezes anos nesta terra tão
ainda desconhecida por cada um de nós, e é preciso desvencilhar esses caminhos.
Pedimos ao Espírito Santo que nos dê a saúde e muita força de vontade para
levarmos cada vez mais este projeto a frente, e também estarmos unidos a nossa
querida Mãe Igreja que nos enviou através de D. Edney, onde nos sentimos
acolhidos e amados pela presença de Deus.
Mesmo com tanto cansaço físico, horas de viagem, e muitos
choros por ver o povo passar por tantas lutas, tudo valeu muito a pena, podemos
expressar que tocamos as chagas de Cristo, e para nós é mais importante a
glória da Cruz do que das honras e méritos de uma recompensa que não vemos
aqui, mas desejamos ver no Céu. A gratidão ainda invade a nossa alma e os
nossos corações ardem desejando ver ainda este povo mais curado interiormente e
restaurado através da dignidade humana em seus trabalhos e condições mais
apropriadas para viverem melhor, com uma educação melhor, o saneamento básico
montado de forma mais digna e missionários que queiram dar a vida pelo povo, resgatando
com isso de forma mais precisa tantas crianças e jovens para os que cada dia
mais sejam agentes transformadores de luz e amor no mundo.
Queremos ver essas crianças mais felizes e estudando, tendo oportunidades
melhores de vida, para que elas não possam desistir dos seus sonhos. Fechamos
este relatório feito com o coração com a seguinte frase de Padre Eduardo Braga,
que nos fez descobrir os ares marajoaras: “ Você
sai do Marajó, mas o Marajó não sai de você.” Bendizemos ao Senhor Deus
pelas sua misericórdia infinita!
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